Especial Kiss

Dois anos depois, fiscalização não acompanha avanço das leis

Lizie Antonello

"

Se há dúvidas sobre se aprendemos ou não as lições deixadas pela tragédia na Kiss, é consenso que, ao menos, estamos mais rigorosos no quesito prevenção de incêndios. Se é muito ou pouco exigente, se defende interesses ou não, se foi usada em busca de protagonismo ou por convicção, a nova lei estadual, sancionada no final de 2013, veio para tentar proteger as pessoas de uma nova tragédia. Isso é inegável, apesar das polêmicas flexibilizações da Lei Kiss.

:: Santa Maria aprendeu a lição sobre prevenção?

Além disso, o incêndio desencadeou mudanças na lei federal, que aguarda tramitação no Senado, e nas legislações municipais em todo o país. Normas e procedimentos também foram modificados ou atualizados nas três esferas de governo (veja quadro). De forma geral, o principal problema das medidas propostas para aumentar a segurança em locais de reunião de público é que o não cumprimento não é punido.

Em Santa Maria, de quatro medidas aprovadas, apenas a exigência de alvarás em locais visíveis e de informações sobre lotação em convites está sendo cobrada efetivamente. A proibição de comandas em estabelecimentos com mais de 250 pessoas, na prática, não funciona. O mesmo acontece com placares eletrônicos de controle de público, que não foram instalados. Já a Lei Kiss (estadual) é cobrada pelos bombeiros, mas as multas pelo descumprimento ainda não podem ser aplicadas.

Falta um conjunto de resoluções técnicas que ainda não foi concluído pelo Conselho Estadual de Segurança, Prevenção e Proteção Contra Incêndio. E não há data prevista.

_ A lei só nos dá possibilidade de notificar e interditar. Não dá, ainda, a possibilidade de multar. Então, notificamos quando existe um sistema incorreto que não traz risco iminente à vida e interditamos quando traz risco à vida. Por outro lado, um problema que tínhamos foi resolvido com a nova lei: é o proprietário do imóvel que tem de buscar a regularização. Não cabe aos bombeiros procurá-lo como ocorria antes _ explica o major Gerson Freitas, chefe da Seção de Prevenção de Incêndios do Corpo de Bombeiros de Santa Maria.

O arquiteto Nabor Ribeiro aponta outro problema: as construções antigas que não têm como se adequar às novas regras. Essa também é uma dificuldade enfrentada pelos bombeiros.

_ Não sabemos quantos prédios existem na cidade. São muitas construções clandestinas que deveriam ter PPCI (Plano de Prevenção Contra Incêndio) e não têm. Não temos como mensurar isso, em todo o Estado. Nenhuma prefeitura de nenhuma cidade tem esse controle _ diz o major Freitas.

Apesar de a prefeitura estar fazendo o recadastramento imobiliário, esse dado não será disponibilizado porque a existência de um PPCI não está sendo questionada.
As flexibilizações na Lei Kiss são outra preocupação. Já foram três. Para o prefeito Cezar Schirmer, o caso é exemplo de que é preciso ter cautela ao se propor mudança na legislação:

_ No Brasil, há um vício de mudar a lei. No caso da Kiss, muito foi feito no calor do acontecimento. Acho isso sempre ruim. Porque não é a lei que resolve e, sim, uma mudança de mentalidade. Depois, com o passar do tempo, a questão legal deve ser analisada com amadurecimento.

Atualmente, uma comissão da prefeitura trabalha na atualização da lei municipal de 1991. Segundo o prefeito, "em uma análise mais racional e menos emocional."
A lei do município é considerada rigorosa por profissionais da área de engenharia e de prevenção de incêndio. Tanto que foi usada como base para a reformulação da lei estadual.

_ Santa Maria foi o município que deu exemplo no país com a lei municipal de prevenção a incêndios, em 1991. Só que a lei veio antes da estruturação dos setores da prefeitura e dos bombeiros, que não acompanharam essa vangua"

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Anterior

'O assaltante disse que se ligassem para polícia, mataria a funcionária', conta gerente do mercado

Próximo

Aprovados no concurso da BM fazem protesto na Praça Saldanha Marinho, em Santa Maria

Geral